A linguagem é um grande instrumento de poder e o uso sexista da língua promove a invisibilização do feminino, corroborando com a desigualdade de gênero.
Muitas mulheres não se sentem excluídas pela masculinização da língua portuguesa, pelos plurais sempre no masculino…
Muitas mulheres não se sentem ofendidas pelo assédio e pelas cantadas constrangedoras na rua…
Muitas mulheres não se sentem constrangidas pelo cerceamento do seu direito de ir e vir…
Muitas mulheres nem ligam por serem subestimadas e consideradas incapazes…
Muitas mulheres não acreditam ser ruim as classificações que recebemos de mulheres “pra casar” e mulheres “pra transar”…
Muitas mulheres não se importam por não terem o direito de decidirem sobre as suas próprias vidas, sobre o que ser, sobre o que fazer, sobre o que vestir e sobre o que gostar…
Muitas mulheres não se importam por, compulsoriamente, em decorrência da cultura social e das famílias, serem compelidas a se casarem e serem mães, sendo irrelevante o fato de ficarem felizes ou não…
Muitas mulheres não se importam de, durante séculos, termos sido excluídas da história…
Muitas mulheres não se importam de serem colocadas como coadjuvantes das histórias das suas próprias vidas…
Muitas mulheres não se importam de serem objetificadas e tratadas como brinquedos sexuais masculinos…
Infelizmente, de regra, não somos educadas, somos “adestradas” e criadas para enxergar o mundo pelo olhar masculino, para sermos desunidas, para calar, para não ousar e para condenar toda aquela que desafiar o “sistema” de sujeição e da suposta inferioridade feminina.
Então é isso, não crítico quem se sentir bem com essa forma de existir, quem gostar de viver, assim, sempre na retaguarda masculina!
Já eu, assim como muitas outras mulheres, me sinto excluída, quando, por exemplo, sou convidada a participar de uma Associação para “AdvogadOs” e não para a Advocacia, que é a nossa classe…
Eu me sinto excluída quando vejo escrito na minha carteira da OAB, Identidade de “AdvogadO”, pois sei que os meus colegas Advogados jamais aceitariam ficar com um carteira que tivesse escrito Identidade de “AdvogadA” , afinal de contas, eles não são “mulherzinhas”, não é mesmo?
A ascenção de mulheres, sempre como exceção não é empoderamento feminino. Não podemos confundir autonomia financeira, com empoderamento feminino. Para que ocorra o empoderamento feminino é necessário que haja uma mudança de comportamento social, inclusive dos homens.
O fim da invisibilidade do feminino e o encorajamento das mulheres são fundamentais para a efetivação do empoderamento feminino, pois encorajar-se é uma ação individual, cada mulher deve buscar encirajar-se para ser o que quiser e fazer o que bem entender da sua vida, desde que não cometa crimes. Este é um processo que já começou e é irreversível, ninguém poderá mais pará-lo.
Portanto, se faz mister marcar a existência de outro gênero, para além do masculino, pois este sozinho, não tem o poder de representar todas as pessoas. É preciso que se discuta a Equidade de Gêneros em todos os AS e em todos os OS que existirem na língua portuguesa e nas nossas vidas, pois precisamos ocupar o lugar que é nosso por direito.
QUEREMOS EQUIDADE DE GÊNERO E NÃO INVERSÃO DE SOBERANIA!
AFINAL DE CONTAS, SE HOJE, NÓS MULHERES, PAGAMOS A METADE DA CONTA, DEVEMOS OCUPAR A METADE DA MESA!
Valdilene Oliveira Martins