Valdilene Oliveira Martins*
Sem dúvidas a efetivação da igualdade de gênero é uma das vias indispensáveis para a desconstrução do machismo e da misoginia que, há milênios, subjugam a mulher na nossa sociedade.
Historicamente, a mulher foi limitada ao ambiente doméstico e obrigada, dentro deste ambiente, a se virar, a fazer tudo e a pensar em tudo sozinha, cuidar de crianças, dos afazeres domésticos, enfim de toda a família e o que, em decorrência dela, fosse demandado.
Mesmo alcançando o âmbito publico, a mulher continuou com as atribuições domésticas, pois poucos homens descobriram o âmbito privado. A falta de parceria dos maridos e companheiros é uma violência diária e muito naturalizada, que a maioria das mulheres ainda enfrentam.
“Super poderes” atribuídos às mulheres, sempre foram embustes pra fazer com que elas aguentassem a violência da sobrecarga caladas e ainda se sentissem “bem” com isso.
Mulheres não são extra terrestres, não são seres mutantes, não são objetos… mulheres são seres humanos, que erram, acertam, se cansam, ficam estressadas, se irritam, amam, odeiam, querem ser vistas, cuidadas, amadas, valorizadas e, sobretudo, respeitadas!!!!
É preciso educar as crianças para a equidade! É preciso ensinar às meninas que elas devem crescer, cultivando o amor próprio, a auto estima elevada, que devem estabelecer projetos pessoais bem definidos e buscar a autonomia financeira, psicológica e emocional. Aos meninos é preciso ensinar que eles podem expressar seu sentimentos, que podem chorar, se sentir frágeis, que podem demonstrar amor, carinho e afeto. Que devem ser aversos à violência e ao exercício de poder, além de fazê-los entender que a masculinidade não precisa ser provada, não é frágil e que ela vai além da prática sexual.
O empoderamento feminino é incompatível com a invisibilidade e com a sujeição que, apesar de tudo, ainda nos tentam impor! Na contemporaneidade, o machismo passa a ter outros formatos, vem travestido de elogios que chega a ludibriar até mesmos mulheres mais atentas, com falácias, que podem induzi-las ao erro!
A legislação brasileira deixou de respaldar a sujeição e a inferioridade feminina, apenas no século passado, pouquíssimo tempo, em termos de história e de mudança cultural. A palavra sororidade (que é a união e aliança entre mulheres, baseada na empatia e companheirismo, sendo definido como um aspecto de dimensão ética, política e prática da luta pela igualdade entre os gêneros) ainda não é conhecido por muitas mulheres, muito menos praticada, poucas delas tem a consciência de que não devem considerar as outras como inimigas!
Por fim, destacamos que a palavra de ordem é desconstrução, precisamos criar uma nova ordem, iniciando-se pela educação das nossas crianças, onde a equidade e o respeito às diferenças sejam princípios basilares. Devemos remover o sexismo dos nossos lares, das nossas escolas, da nossa sociedade… enfim, das nossas vidas, pois ele já nos causou danos demais.
A parceria entre mulheres e homens é imprescindível na construção de um mundo melhor pra se viver. A luta pela equidade de gênero é uma luta da humanidade, que tem a mulher como protagonista, se o homem faz parte do problema, obrigatoriamente, ele deverá fazer parte da solução.
*Valdilene Oliveira Martins
Advogada de família e criminalista, que atua exclusivamente na assistência jurídica de mulheres em situação de violência doméstica e familiar, presidente do Instituto RESSURGIR Sergipe